as histórias das histórias
ler é um gosto. ler é algo que me consegue fazer desligar do mundo real. ler é algo que realmente me faz feliz. ler é algo que me permite aprender muito sobre a vida e sobre as relações. ler é algo que me leva para onde mais gosto de estar, no meio de histórias. é isso o que mais me cativa no mundo literário: a possibilidade ver, observar e pensar em tantas histórias de vida seja através de que género literário for, tudo são histórias.
este foi um mês no qual, ao contrário de tantos outros, consegui ler alguns livros. exatamente por sentir que foi um mês de boas leituras, e nas mais variadas formas literárias, que hoje partilho as minhas leituras de fevereiro.
este foi um livro que me deixou uma sensação muito agridoce no virar da última página. por um lado, tive imensas dificuldades em me ligar à história. não sei se esta dificuldade se deveu às milhentas histórias que são contadas pela autora, se pelo saltitar constante de história e, por isso, um sentimento de ausência de continuidade - como se não houvesse propriamente uma narrativa para seguir. depois, o facto de ser um livro que traz a vida de uma terapeuta faz com que seja algo muito colado à minha realidade e, por isso, também se possa ter tornado desmotivante. por fim, a própria escrita da autora (ou a sua tradução) também não foi particularmente cativante.
a meio do livro consegui finalmente ligar-me. creio que aquilo que verdadeiramente me prendeu foi a humanidade das pessoas nele abordadas. não só a história da própria terapeuta que vamos seguindo mas, essencialmente, a dos seus pacientes que ela nos vai contando. não que traga temas nunca antes vistos ou histórias nunca antes contadas, mas porque são contadas com uma grande sensibilidade. não me admira que tenhamos um comentário do grande Yalom na capa uma vez que, tal como ele, também Lori nos fala da fragilidade e da dor humana.
concluindo, diria que este é um livro interessante para psicólogos, por mostrar aspetos da transferência e contratransferência de uma forma muito clara e emotiva. mas talvez seja ainda mais interessante para não psicólogos porque utiliza a história da própria e a dos seus clientes para falar de aspetos teóricos inerentes a um processo terapêutico e ao próprio desenvolvimento humano que por norma, o comum mortal, não tem consciência.
esta foi uma leitura que me desiludiu. não foi há muito que li o primeiro livro da Maria Isaac, Onde cantam os grilos e recordo-me de como fiquei presa àquela história, àquela família, àquela trama familiar. aqui, demorei mais de 150 páginas a conseguir ligar-me a algo, desesperada com a ausência de conteúdo. uma escrita que não me prendeu e que parece querer esconder muito, talvez com o intuito de continuar esta saga, mas que deixa de lado a profundidade das personagens - que é essencialmente para haver conexão com o leitor.
é uma história que traz muito daquilo que é português, as nossas tradições, mesmo as mais dolorosas de ler como a violência doméstica, estão mais do que retratadas nestas páginas. contudo, parece que tudo fica numa superficialidade que dói e dificulta a leitura. saiu este mês o terceiro desta coleção, será que quererei lê-lo? não sei.
há muito que aguardava o romance de estreia da Rita da Nova. acompanho o seu trabalho e as criticas literárias que faz no seu podcast e tinha altas expetativas para este livro. consigo dizer com todas as certezas, no momento em que acabei de virar a última página deste livro, que o adorei!
em grande parte deve-se à escrita da Rita. uma escrita boa, fluida e que capta bem a essência portuguesa. uma escrita que sabe colocar as metáforas nos sítios certos, por norma naquelas emoções mais difíceis de descrever sem usar imagens. uma escrita bonita que não se perde a tentar ser floreada e forçar um ar de intelectual.
depois, pela própria narrativa. esta história foca-se na procura da personagem principal pelo pai e é interessante ver como existe pouco mais do que isso nesta narrativa - talvez porque assim transpareça aquilo que a própria Ana Luís viveria, um foco total na sua demanda, fazendo com que tudo o resto na sua vida perca importância. confesso que, por vezes, gostava que as personagens tivessem sido mais exploradas, lhes tivesse sido dado mais corpo. novamente apaziguo esta minha necessidade pensando que talvez nem a própria da Ana Luís conseguia conhecer intimamente alguém...
por fim, adorei este livro pela história, uma história de relações, uma história de família. as páginas marcadas com stickers nesta obra são muitas - e isso já diz muito. fala-se de dor. fala-se de desilusão. fala-se de desesperança. fala-se de desamparo. mais do que uma história de um pai e uma filha, acho que este livro traz-nos a história de uma mãe e de uma filha. são tantos os fenómenos que vemos acontecer nesta díade que a torna realista - conseguiria imaginar uma cliente minha a contar-ma.
cada vez mais me tenho aproximada da literatura de fantasia. creio que desconstruí os meus estigmas ds fantasia e finalmente entendi que é possivel encontrar profundidade neste género literário. durante o tempo de pandemia, uma amiga emprestou-me e eu devorei a trilogia do Príncipe Cruel e a autora Holly Black tornou-se uma das minhas autoras preferidas de fantasia
a propósito de uma história complementar à trilogia do Príncipe Cruel que acabou de ser lançada em Portugal, sem saber, a editora Penguim teve a gentileza de me enviar a coleção - conseguem imaginar a minha excitação, não? foi assim que mergulhei novamente na autora.
confesso este foi o único livro em que a autora me desiludiu. conhecer um pouco mais da história de Cardan (a personagem masculina principal da coleção) era algo muito esperado. não posso deixar de lado a curiosidade de psicóloga em perceber o porquê dele ser como é - como terá sido a vida dele? mas não foi bem isso que encontrei neste livro.
este pequeno livro, que cruza passado e presente, soube-me a pouco! acredito que a personagem poderia estar muito mais desenvolvida, dando-nos um pouco mais daquilo que é a vida e os pensamentos desta que é uma das personagens mais complexas da coleção. um ponto muito positivo, e que é impossível de desligar, são as ilustrações que acompanham cada capitulo - simplesmente belo e tão próximo daquilo que têm sido as especulações dos fãs!
embalada nesta desilusão com o último livro traduzido em Portugal da Holly Black, tive a necessidade de ir ver se já tinha escrito mais alguma coisa. é assim que me deparo com o primeiro livro de uma nova coleção e não lhe consigo resistir: li-o mesmo em inglês.
agora sim reconheci a autora! este foi um bonito início daquilo que é a história de Oak (que não vou dar pormenores do porquê da sua relevância para não fazer spoilers) que é uma personagem que, quem segue a saga, provavelmente já sentia que merecia o seu espaço e destaque.
aquilo que mais cativa nos livros da Holly, além de uma narrativa rápida, são as personagens e a forma como a autora as envolve umas nas outras. gostei muito de Wren (a personagem principal nesta saga) e da profundidade que vemos dela, ao ponto de vermos e sentirmos a sua dor, as suas defesas e carapaças, mas também as suas necessidades e carências. é uma personagem que me deixou surpreendida e o que me deixa ansiosa pelo próximo livro. talvez me lembre um pouco a história de Ana Luís, no livro da Rita da Nova, pela sua carência, necessidade de ligação e de pertença a uma família.