manta de retalhos
damos por nós, por estes dias e pela impossibilidade (achamos nós) de, por enquanto, criar novas e emocionantes memórias, a relembrar umas tantas. sem querer, damos por nós a recordar tempos em que nos sentíamos tão felizes que parece que tamanha felicidade não cabia em nós. somos por nós mergulhados na nostalgia do passado...
a verdade é que, a nossa identidade alimenta-se das recordações da nossa vida e, agora, vemo-nos obrigados a suspender esta criação ou a reinventar a forma como criamos, ou gostaríamos de criar, memórias. até sermos capazes de ousar surge, de forma quase involuntária, as nossas memórias. são estas memórias, as partilhas com os outros, que nos mantêm vivos por dentro e não nos deixam esquecer quem somos.
somos uma manta de retalhos. somos o conjunto das experiências que vivemos (e da forma como as vivemos) e é o que levamos delas que nos faz pessoas únicas. esta experiência de isolamento social será, em breve, uma memória que recordaremos com algum alívio e contentamento à mistura. é uma aventura que marcará, decerto, para sempre a nossa identidade e que contaremos com um sorriso aos nossos netos...
mas não perdemos de vista que esta era do isolamento e de alguma distância irá permanecer, por algum tempo, nas nossas vidas. qual o sentido de parar a "rodagem" deste filme que é a nossa vida? admitamos que temos de mudar, que temos de alterar a nossa forma de criar memórias, de nos relacionarmos com o outro, para podermos continuar a dar "sentido" à nossa vida!