o sindicato das mães

07-05-2023

hoje celebra-se o dia da mãe. a meio desta semana celebrou-se o Dia Mundial da Saúde Mental Materna. o materno esteve muito presente nas nossas mentes esta semana. o materno dominou os reels e as publicações da semana. ter dias que procuram marcar e celebrar a vida é importante. ter dias que procuram relembrar aspetos e pessoas é importante. ter dias que procuram trazer para cima da mesa temáticas para debate é importante. mas o que fazemos nós nos outros 363 dias do ano? o que fazemos nós pelas mães? será que reconhecer a sua importância em pequenos gestos simbólicos do nosso amor por elas é suficiente? enquanto filhos e filhas, talvez seja mais do que suficiente. enquanto sociedade, talvez lhes devamos mais. 

uma sociedade que cuida bem das crianças, é uma sociedade que cuida bem das mães. Márcia Tosin

este tema relembrou-me esta frase da Márcia Tosin que, para mim, faz todo o sentido. enquanto sociedade, falhamos muito com as mães - e talvez esteja na hora de nos repensarmos. preocupamo-nos tanto com a gratuitidade das creches, que nos esquecemos que tudo o que as mães e os bebés querem é estar juntos o dia inteiro. preocupamo-nos tanto com uma sociedade produtiva e eficaz, que ainda achamos que 5 dias é o suficiente para uma mãe fazer um luto da sua perda gestacional. preocupamo-nos tanto com a informação cientifica e os cursos de preparação para o parto, que nos esquecemos como minamos constantemente a sua intuição e bússola interna. preocupamo-nos tanto em ter crianças "saudáveis", que nem respeitamos os ritmos de cada um, invadindo os corações das mães com pressões desnecessárias. preocupamo-nos tanto em promover o autocuidado das mães, que nos esquecemos como não cuidamos delas com os nossos achismos e críticas.

ora, mas porquê esta importância tal das MÃES? voltemos ao inicio da vida, a onde retomo (quase) sempre para dar inicio a estas reflexões. voltemos ao nosso nascimento e ao estado de dependência absoluta que vivemos, no qual dependemos do adulto para sobreviver, não só do ponto de vista fisiológico, mas também do ponto de vista cerebral e emocional. e que adultos são estes? nos primeiros tempos, a probabilidade de ser uma MÃE é muito elevada.

mais, o bebé pode não ter uma capacidade de raciocínio e de ligação lógica, mas é incrivelmente intuitivo e isso faz com que tenha uma grande sensibilidade ao meio que o rodeia, mais concretamente à MÃE. o bebé pode não perceber os porquês das mudanças, mas sem dúvida que se apercebe delas, que as sente no seu corpo e que responde de acordo com o que sente - não é por acaso que um bebé tem uma série de comportamentos de vinculação (como chorar, sorrir, seguir com o olhar, agarrar-se, sugar, mover-se) que o permite responder ao ambiente em constante mudança, às interações com os outros, para que consiga estabelecer a proximidade/distância da figura de vinculação.

ora, se o bebé é um ser tão sensível e permeável ao outro que o acompanha e de quem depende, será que não nos devíamos preocupar mais com o bem-estar desse outro? se os primeiros anos de vida são tão indispensáveis a nosso desenvolvimento, será que não nos devíamos preocupar mais com quem está responsável por esses anos? se queremos ter adultos mais saudáveis, não devemos cuidar mais das crianças? se queremos crianças mais saudáveis, será que não devemos cuidar mais das MÃES? 

claro que sabemos que não é uma sentença de morte, uma vez que as crianças têm uma grande capacidade de resiliência, existindo dentro de cada uma delas potencial para amadurecer e contornar, mais ou menos bem, os dissabores da vida. mas se, enquanto sociedade podemos facilitar a vida das crianças, facilitando a das mães, porquê é que parece que continuamos a dificulta-la? talvez devesse mesmo existir um sindicato das mãe que as representasse em Assembleia Geral e lutasse pelos seus direitos - tudo, em prol de uma sociedade mais saudável. 



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marcia arnaud | psicóloga clínica | 2024 | Todos os direitos reservados
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